BLUE - Joni Mitchell (1971) / escrito por Walef Matias

A arte envolve todos os nossos sentidos e sentimentos. A pintura por exemplo nos surpreende visualmente, enquanto a música nos conquista pelos ouvidos. Mesmo não ouvindo, nas pinturas podemos imaginar um grito, se for retratado alguém gritando. Mesmo não vendo cores e formas, podemos imaginar cenas sem ver nenhuma delas.

Esse álbum é exercício de imaginação. Imaginem uma mulher, recém separada, que está tentando superar o divórcio, e remoendo acontecimentos do seu passado. O azul pode significar muita coisa, mas em inglês o nome da cor remete a tristeza quando usava como adjetivo algumas vezes.
Não tem como não ser triste. É sobre uma mulher que perdeu o chão. Viaja pelo mundo e em seus pensamentos, procurando maneiras para seguir em frente. Triste, não é, pessoal???
Apesar de eu não ter me separado de ninguém desse jeito, entendo o sentimento de estar deslocado do tempo e no espaço. Querendo voltar para o ontem, que não existe mais, e procurando no hoje, algo que tinha nesse ontem.
Tem muita história implícita nesse álbum, que geraria uma resenha explicativa de páginas, mas numa obra de arte, o expectador deve observar e tirar suas próprias conclusões. Às vezes o artista conta algo hoje numa obra que só é descoberta décadas depois e talvez até depois de sua morte.
Pois saibam que eu explicarei o contexto das faixas, mas o contexto histórico é algo complicado de explicar, pois são histórias nas músicas que tem detalhes que podem não ter explicação até o momento que escrevo. Então vamos às faixas:
Em "All I Want", Joni fala do início das suas viagens. É o início de uma jornada para buscar o melhor dela mesma.
"My Old Man" é uma caixa para seu pai, John Prine (que já escreveu uma canção para seu próprio pai, o avô dela. Família de artistas né, galera).
Falando em família, em "Little Green", Joni fala sobre sua filha pela qual ela entregou para a adoção, em uma época pela qual ela era uma artista desconhecida. Só foram revelados esses detalhes da música 20 anos após o lançamento.
"Carey" comenta sobre Cary Raditz e o tempo em que Joni viveu com ele em uma comunidade hippie em Mátala, na ilha grega de Creta.
"Blue" é a faixa que leva o título e não é por menos. Apresenta uma melancolia e uma certeza saudade de coisas que podem nunca mais acontecer.
"California" mostra Joni voltando aos EUA, depois de muitas viagens. Aparenta felicidade, animação por voltar para seu país (ao menos até o momento).
"This Flight Tonight" fala do vôo que a trouxe de volta a sua casa. Lembranças do amor que ela teve voltam, e ela deseja não ter pegado esse vôo.
"River" fala tristeza de Joni na Califórnia, em que ela não se sente satisfeita de forma alguma, graças a lembranças do passado.
Em "A Case Of You", Joni compara seu ex amor a um vinho sagrado, pelo qual ela beberia um engradado.
Apesar de parecer, "The Last Time I Saw Richard" não é baseada em seu ex marido, e sim em uma conversa que teve com um amigo, o cantor de folk Patrick Sky.

Joni Mitchell fez de sua dor um álbum que até hoje aparece nas listas de melhores álbuns do mundo. Como ótima compositora, fala de sua vida de forma misteriosa às vezes, que só descobrimos depois de anos sobre o que se tratava a letra. Mas a arte é assim: cheia de cores, dores e amores. Voltaremos em breve com mais resenhas, aguardem...
 

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