Review: MELODRAMA - Lorde (2017) / escrito por Walef Matias

O nome do álbum já diz tudo. Não digam que não avisamos... Essa é uma TRAGÉDIA. Começamos nossa história em 2014. Lorde tinha lançado seu álbum de estreia em setembro do ano anterior. Começou a fazer sucesso, então conheceu alguns de seus ídolos, dentre eles David Bowie.
O camaleão do rock disse que ouvi-la era "ouvir o futuro". Infelizmente Bowie não pode ouvir o que Lorde reservava para o futuro, pois faleceu 2 anos depois, dois dias após seu aniversário de 69 anos. Te avisamos: isso é melodrama.
Mas apesar de assuntos tristes sobre relacionamentos, esse álbum tem o ritmo animado na maioria das faixas, mas que sempre traz um assunto complexo na letra, o que se consagrou marca registrada da Lorde nesse segundo álbum. Ella não era mais adolescente, era famosa agora e sofria suas primeiras decepções amorosas.
Então a nossa protagonista dessa tragédia estudou tragédias gregas e se empenhou para entregar drama em suas faixas do próximo álbum. Eu, como futuro psicólogo, percebi um conceito que pode ser notado no álbum: o enfrentamento do luto. Não como o luto do David Bowie (que é referenciado de alguma forma tímida), mas o luto pelo fim de um amor.
Segundo o Modelo de Sofrimento de Kübler-Ross, existem 5 fases pelas quais precisa se passar para superar um grande sofrimento: Negação, Raiva, Barganha, Depressão e Aceitação. Quando eu apontar as faixas, detalharei melhor, não se preocupem...
Falando nisso, acho importante começar a fazer isso agora. Vamos às faixas:
"Green Light" é uma faixa em que Lorde se entrega a uma vida noturna, com amigos e amantes de uma noite. O tom do álbum começa animado, porém o drama já se apresenta em algumas partes da letra. (Videoclipe abaixo)

 
Em "Sober", acontece o momento da conquista, em que nossa protagonista conhece o homem com quem ela compartilha o título de Rei e Rainha do fim de semana.
"Homemade Dynamite" mostra que ela sente que o casal tem química e que juntos são "dinamite caseira". (Versão lançada como single abaixo, com participação de Khalid, SZA e Post Malone)
 

"The Louvre" demonstra que o amor nasceu e que ela o considera tão lindo que acha que os dois deveriam ser pendurados no Louvre, o museu de arte francês mundialmente conhecido.
"Liability" mostra que começaram brigas sérias. Porém Lorde diz que prefere ir embora, aproveitar de sua própria presença, pois ela própria se ama antes de tudo. Apesar da tristeza, no fim ela não se considera um peso, apesar de preferir desaparecer.
"Hard Feelings" fala sobre o término e como ficaram ressentimentos em ambos. A música vai diminuindo o tom e ficando mais dramática, aí surge a surpresa de "Loveless""Que faixa é essa?", vc deve estar se perguntando... Ela fala como Lorde ficou irritada com o homem que amava, pelo descaso dele com ela.
"Sober II (Melodrama)" é a faixa que leva o título do álbum e traz a primeira fase pós sofrimento: negação. Lorde começa a ir em festas e beber, para esquecer o que um dia foi um grande amor na mente dela.
"Writer In The Dark" traz a fase da raiva. Lorde se mostra vingativa, e espera que seu ex amor amaldiçoe o dia que beijou a escritora (no caso ela) no escuro. Ela tenta transparecer que está melhor sem ele, mas uns versos mostram que ela não o esqueceu.
"Supercut" traz a fase da barganha. Lorde tenta negociar com suas lembranças e fazer uma super edição, só com os melhores momentos, em que deu tudo certo, para que se finalize o sofrimento. Porém, mesmo repetindo várias vezes que em sua cabeça ela faz tudo certo, isso não muda a realidade do que realmente aconteceu.
E minha última fala se concretiza em "Liability (Reprise)". Aparece a fase da depressão, onde a protagonista dessa tragédia deve encarar a realidade, para sair do melodrama e deixar para trás o sofrimento.
"Perfect Places" é a faixa da aceitação, não só quanto ao relacionamento. Lorde encara que isso vai acontecer de novo na sua vida adulta, que seus heróis vão cair (a referência ao Bowie que falei está aqui, para quem ia cobrar) e que ela não pode ficar fugindo para "lugares perfeitos", que ela nem sabe quais são.


Lorde nesse álbum apresenta uma complexidade em suas letras e na forma de fazer a melodia. A garota neozelandesa que foi apontada pelo Bowie como o futuro realmente provou que não iria ser um fenômeno passageiro, e que apesar de sumir em meio ao sol de tempos em tempos, volta sempre de uma forma parecida como um "Jesus mais bonito", como ela mesma diria... Eu também voltarei em breve. Não, não vou deixar vocês esperando 4 anos, podem confiar. Obrigado e boa noite.
 
 

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